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21/06/2017 Suzana Coutinho Temas atuais Deixar-se conhecer: a comunicação a serviço da comunhão
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Vivemos num tempo imerso em comunicação, mais precisamente, nas tecnologias da comunicação, que possibilitam que mensagens possam ser emitidas, produzidas, divulgadas e “consumidas” em todo tempo e em todo lugar. Basta olharmos ao nosso redor, tanto nas pequenas como nas grandes cidades: outdoor, placas, faixas, cartazes, muros, panfletos, portas dos carros, vidros dos ônibus, camisetas, caixas, latas de lixo, canecas... são algumas das mídias, ou “porta mensagens” que costumeiramente vemos por aí. Sem contar a mídia eletrônica: celular, smartphone, tablet, personal computer, lap top, televisão, rádio, cinema... e a imprensa, como jornais, livros e revistas. Mas, como ler essa realidade à luz da Palavra de Deus?

Em primeiro lugar, busquemos entender o significado da palavra “comunicação”, facilmente aplicada a tudo isso, mas que nos revela algo mais profundo. De modo geral, entende-se este termo como “colocar em comum”, compartilhar, comungar. Seu sentido está associado à Igreja cristã, por isso para nós, cristãos católicos, é ainda mais relevante falar, pensar e fazer comunicação. Mas, o que se tem colocado em comum? O que, de fato, compartilhamos?

A teologia da comunicação nos ensina que o primeiro grande comunicador é Deus. Ao se revelar a nós, ao colocar em comum seu projeto de amor, desde a criação, Deus se comunica. Mais do que nos ensinar coisas, Deus nos fala Dele mesmo, de seu amor, de sua vontade. A comunicação de Deus é, portanto, um dom. Deus partilha conosco de si mesmo.

Ao fazer isso, essa comunicação também nos convida a viver com Ele: é comunhão. Mas não se trata de uma comunhão solitária, individual. Embora seu convite ressoe no coração de cada pessoa humana, o chamado a viver com Deus é comunitário, coletivo. É um convite para formarmos seu povo, vivermos como irmãos e irmãs, ampliando, assim, a nossa possibilidade de partilhar e compartilhar.

Não se pode amar o que não se conhece. Portanto, desejando ser amado, Deus se dá a conhecer, se faz íntimo da humanidade, apresenta-se por primeiro, esperando encontrar corações que o acolham. E espera que também nós façamos o mesmo: desejando ser amados por Deus e pelos irmãos e irmãs, nos damos a conhecer, expondo nosso rosto, nossa história, nossos pensamentos e sentimentos. Vamos nos revelando aos outros por meio da comunicação e, ao mesmo tempo, possibilitamos que os outros se revelem, se deixem conhecer.

Portanto, a comunicação verdadeira é aquela que permite abrir ao outro e a Deus nosso mistério de vida, o nosso sagrado, fazendo rasgar o véu (revelar) que cobre nossa existência. Mas, será que a comunicação atual nos tem proporcionado esta experiência? Temos permitido que Deus e os outros se deem a conhecer? Temos feito da nossa comunicação um dom que possibilita a partilha e a comunhão?

Interessante voltarmos ao sentido das palavras: se comunicação se refere à comunhão, diabólico é exatamente o contrário, o que divide. Por isso, como exercício autoavaliativo, podemos realizar um exame cuidadoso de nossa comunicação e da comunicação na sociedade: ela gera comunhão ou divide? É divina ou diabólica?

São muitas as tentações de fechamento, de mentira, de máscaras que não revelam, mas escondem a imagem de Deus em nós. De outro lado, o egoísmo e a autoreferenciação (colocar-se a si mesmo no centro de tudo) não permitem que deixemos que os outros se manifestem, não os enxergamos e não acolhemos ou participamos de suas vidas.

O cardeal Carlo Martini, em seu livro “O evangelho na comunicação” (Paulus, 1994), nos ensina que, apesar de toda a “incomunicação”, fomos feitos para a comunicação. Por isso, o trabalho árduo de todo dia é relembrar que somos imagem de Deus comunicador. O Senhor nos fez para a comunicação. “É o próprio Deus quem vem ao nosso encontro: ele é comunicação, é capaz de curar os nossos desacertos comunicativos e de nos tornar plenos da graça de fluxo relacional sadio e construtivo”.

Assim, o uso das novas ou antigas tecnologias deveria ser o prolongamento desta revelação, ampliando nossas vozes, nossos olhares, nossos sentidos, permitindo que cheguemos aos mais distantes lugares, mas também que nos aproximemos dos que estão ao nosso redor. Deveria nos ajudar a expressarmos nossa condição humana, com suas luzes e trevas, animando-nos na caminhada em busca de nossa verdadeira vocação: sermos filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs uns dos outros.

A catequese se coloca também este desafio, afinal, a própria palavra quer nos convidar a “fazer ecoar” a mensagem de Deus. Como catequistas, somos uma “mídia”, não só por meio de nossos dizeres, mas, acima de tudo, de nosso testemunho vivo de quem busca comungar do amor de Deus e das pessoas. A palavra não sai primeiro de nossas bocas, mas, antes de tudo, de nossos corações. É lá que a verdade ecoa: Deus amor se revela a nós, homens e mulheres, nos convidando a viver com Ele e com os outros, como dom e partilha. Em seu filho Jesus, se dá a conhecer plenamente e, pela força de seu Espírito, espera que nós continuemos sua missão, revelando seu rosto amoroso e misericordioso a todas as pessoas, até os confins da terra.  

O que a nossa comunicação faz ecoar? Rezemos: “E a palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. 

Suzana Coutinho

Catequista, jornalista.

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