Diante da situação atual, precisamos perceber que estamos numa grande fase de transição cultural na qual o equilíbrio anterior desapareceu. Não estamos vivendo apenas uma época de mudanças, mas uma efetiva mudança de época.

Algumas características fundamentais dessa mudança são o pluralismo cultural, a globalização e as formas subjetivas e privatizadas de tratar questões religiosas. Há uma tendência de as pessoas considerarem menos as instituições e referências religiosas externas para se orientarem pelas intuições e sentimentos diante das circunstâncias da vida. Dessa forma, o centro não está num Deus a ser servido, mas no bem-estar da pessoa, seja ele físico, psíquico ou espiritual.

Por outro lado, não ocorreu o que se preconizava na modernidade em relação ao futuro da religião. Não sobreveio a negação de Deus (o ateísmo) ou a indiferença total à questão religiosa (o secularismo), mas o pluralismo e o sincretismo religioso. Nesse contexto mais plural, a mobilidade religiosa e a crise de pertencimento a uma comunidade de fé são evidentes. Há uma tendência de crer sem pertencer. Há uma proliferação de diferentes formas de crer que caracteriza a religiosidade atual. O que mais cresce nos índices dos últimos sensos do Brasil são aqueles que se declaram sem-religião. Não são antirreligiosos, mas não se sentem pertencentes a nenhuma religião.

O pluralismo permite que cada um recorra às verdades que desejar. Nisso cai-se no relativismo. O relativismo defende a ausência de uma verdade absoluta, pois considera que toda verdade é relativa. Cada um é livre para acreditar no que quiser, contanto que não pleiteie que a verdade seja única.

Num mundo no qual o humano só pode conhecer o que puder reproduzir, a verdade torna-se operacional e experimentável. A comunidade cristã não pode se fechar às diversas realidades que afetam o seu contexto. Para manter a identidade na fidelidade ao Evangelho, precisamos estar com os olhos abertos para o nosso tempo, para ser capaz de anunciar uma plenitude de existência que somente em Cristo encontramos.

A verdade do Evangelho, para ser anunciada nesse contexto plural, exige mais testemunho do que palavras, mais processos do que eventos, mais diálogo e escuta.

Dom Leomar Antônio Brustolin

Arcebispo Metropolitano de Santa Maria