Bíblia e Catequese
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21/06/2017 Therezinha Motta Lima da Cruz Bíblia e Catequese Bíblia: uma coleção de escritos variados
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Therezinha Motta Lima da Cruz

Estamos acostumados a ler livros que têm uma certa unidade de contexto, de estilo, de autor. Mesmo quando temos um livro que junta textos diferentes (coleções de contos, parábolas, poemas, mensagens filosóficas ou religiosas, histórias de épocas diversas), o comum é haver um “organizador” que pesquisou e reuniu os textos tendo em mente um objetivo determinado. Isso também dá um certo tipo de unidade ao livro.

A Bíblia não é um livro assim. Além de ser uma coleção de 73 (na versão católica) livros diferentes, até dentro do mesmo livro podemos ter textos escritos em épocas bem distantes umas das outras, com autores e origens diversas. Temos que lembrar que naquela época os livros não eram feitos e publicados com a tecnologia e os recursos de hoje. A idéia de “direitos autorais” não funcionava do nosso jeito atual. A intenção inicial também não era “escrever um livro”, mas deixar registradas por escrito experiências religiosas, orações, orientações de sabedoria e espiritualidade, lembranças da história que deu origem a um povo e de um Deus que foi se dando a conhecer aos poucos. 

A Bíblia é mensagem de Deus, comunicada e percebida de acordo com o que o povo estava preparado para entender em cada época. Mas o Deus da Bíblia não está empenhado só em ser louvado e falar do céu. Ele se revela na vida humana do povo e por ela se interessa em todos os seus aspectos. Por causa disso, aparecem na Bíblia assuntos, ambientes e estilos de expressão muito variados.     

Às vezes podemos estranhar certos temas que, para muitos, não combinariam com um livro sagrado. Por exemplo, temos lá: brigas de família, com irmãos disputando espaço, normas de higiene (ensina-se até a enterrar excrementos para não deixar sujo o lugar onde o povo vive, veja em Dt 23, 13-14, listas de reis, batalhas...) Isso acontece porque a vida comum de cada dia é o grande espaço para perceber a presença de Deus. Será que estamos sabendo fazer isso? Ou só pensamos em Deus quando estamos na igreja?  

Poderíamos classificar os livros da Bíblia em grupos com algumas características semelhantes (embora mesmo aí haja diferenças entre eles). Temos, por exemplo:

- o Pentateuco: os cinco primeiros livros, que falam da tradição que está na origem do povo

- os livros chamados históricos (Josué, Juízes, Samuel 1 e 2,  Crônicas 1 e 2, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus 1 e2): falam da ação dos diversos tipos de governantes que o povo teve, de vitórias e derrotas que marcaram o povo; mesmo nesse conjunto temos livros de épocas e estilos literários bem diferentes.

- os livros chamados sapienciais (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria,  Eclesiástico – esses dois últimos  não constam na Bíblia protestante): são mais filosóficos,  tratam da sabedoria de viver e também têm estilos diferentes, alguns são poesia, outros são coleções de conselhos para bem viver. Tratam de questões que envolvem a reflexão sobre  o sentido da vida.

- os livros proféticos: embora haja profecias também em partes de outros livros, aqui temos discursos de profetas que ficaram mais conhecidos e se manifestaram diante de situações diversas em que o povo vivia.

- depois vem o Novo Testamento, com os 4 Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as Cartas e o Apocalipse. Cada um aí tem seu estilo e seus objetivos próprios.   

Além dessa imensa variedade, é bom lembrar que na Bíblia temos textos registrados por escrito até séculos antes ou depois uns dos outros – e não necessariamente na ordem em que hoje os encontramos. Diante disso,  fica claro que não podemos ler tudo isso do mesmo jeito, como se fosse um livro só. Saber situar cada livro é fundamental para compreender o que estava sendo comunicado. Nossas Bíblias têm uma introdução para cada livro, notas de rodapé para certos trechos. Tudo isso deve ser consultado e devidamente assimilado para gerar reflexões que não deturpem o sentido do que está sendo dito. 

Então, podemos ver a Bíblia como uma biblioteca onde cada livro e cada texto precisa ser apresentado a partir das intenções da época, da cultura em que nasceu. É Palavra de Deus, mas uma palavra que levou em conta as limitações e necessidades dos interlocutores em cada situação vivida pelo povo. 

E hoje, sabemos conversar com Deus a partir das necessidades e características da realidade em que vivemos? Pense num texto bíblico e tente perceber como ele ficaria se tivesse sido escrito em nosso tempo.  

Therezinha Motta Lima da Cruz

Foi assessora nacional de catequese. É autora de livros de catequese, Catequese e Ecumenismo, Ensino Religioso.

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