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01/06/2018 Pe. Paulo Dalla Déa Temas atuais Um erro comum na catequese
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Pe. Paulo Dalla Déa

Tenho visto coisas maravilhosas na Igreja e na catequese. Tenho visto também umas aberrações que se revestem de nome de catequese, que às vezes, nem durmo direito. Felizmente, as aberrações são sempre em menor número. A sensibilidade de muitos catequistas e a ação do Espírito Santo fazem coisas ótimas em muita gente.

Tendo que escrever algo que ajude na catequese, fui me inspirar na realidade do Brasil. Realidade dura e bem desafiadora: greve e desabastecimento do consumo primário em muitos locais. Mas qual a causa disso? A causa é que temos no Brasil um governo que demora a escutar o povo e quando o faz já está muito tarde. Os caminhoneiros deram muitos sinais, escreveram ao governo em outubro do ano passado e nada aconteceu. Temos um governo com surdez seletiva: se os sinais fossem dos grandes ricos, estaria todo mundo em pânico para atender os reclamos das elites. Mas como foram pedidos de categorias mais de base, não deram ouvido.

Mas o macaco senta em cima do rabo sempre que quer falar do rabo do outro, diria o provérbio popular. Nós católicos também sofremos desse mal: achamos que sabemos o que as pessoas sentem e precisam. Assim, já temos respostas prontas para problemas que muitos nem tem. Esse também é um tipo de surdez seletiva. É preciso escutar mais as pessoas e a realidade, se quisermos evangelizar no século 21.

Quando fui fazer meu doutorado em crisma, fui perguntar aos adolescentes o que eles esperavam da Igreja Católica. Muitos padres e líderes da catequese riram de mim: por que perguntar aos adolescentes o que eles querem? Nós já sabemos o que querem e o que precisam. Eles mesmos não sabem o que querem. Eles não têm opinião. Isso é o que diziam os meus mais sinceros amigos. Os outros riam por detrás...

Gastei o meu tempo fazendo o doutorado e perguntando o que eles queriam da Igreja Católica. Via seus olhinhos brilhando sempre que fazia a pergunta. Tive também a experiencia de perguntar para jovens da Igreja Anglicana e de outras igrejas (algumas protestantes). Vi a mesma experiência: eles ficavam sempre admirados visto que nunca alguém da igreja os tinham levado a sério. Descobri coisas maravilhosas das respostas que deram. Coisas que tinha lido em autores clássicos e grandes teólogos. Descobri também que quanto mais tradicional a igreja, mais ela tinha dificuldade de perguntar algo ou de levar a sério as expectativas de vida dos seus seguidores. Algo partilhado entre a Igreja Católica Romana, a Igreja Anglicana, a Igreja Luterana e outras denominações históricas.

Talvez o peso da história dessas denominações influencie na rigidez de opinião e na dificuldade de escuta. Talvez o peso histórico influencie na suposição da resposta. Não sei, não fiz um estudo aprofundado sobre isso, mas percebi que quando mais jovem a igreja e mais jovens os catequistas, mais fácil de escutar e levar a sério as expectativas e sonhos dos catequizandos

A nossa é uma igreja bem antiga, a mais antiga entre as igrejas cristãs. Nossos catequistas muitas vezes supõem que já sabem a resposta até antes de perguntar, então trabalham com dados fictícios. E cometem o erro mais básico de qualquer evangelizador: você tem que conhecer a pessoa e os desejos que a habitam para conseguir falar de Jesus Cristo com eficácia. Os antigos Padres da Igreja tinham uma máxima teológica que dizia que: “o que não foi assumido, não foi redimido”. Claro que esse era um princípio cristológico, mas pode muito bem ser usado na evangelização. Quando não assumimos os desejos, os sonhos e as expectativas espirituais dos nossos catequizandos, nós só criamos uma casca de evangelização. Por isso, depois da Eucaristia e da Crisma, muitos debandam da Igreja. Provei isso por A + B em uma tese de doutorado que tem 313 páginas, das quais 50 delas só tem análise estatística de todas as enquetes que fiz. E como cereja do bolo, fiz um experimento piloto em uma comunidade de periferia com catequese de crisma em retiros.

Mas, voltemos ao assunto principal. Dar catequese não é só ir lá com um discurso pronto e despejá-lo nos “alunos”. É preciso conhecer a realidade da vida e dos sonhos das pessoas para se atingir por dentro. Senão, nossa evangelização fica como um quibe frito por fora e cru por dentro. Não sei vocês, mas tenho nojo desses salgadinhos meio crus que se acha por aí. Também dá nojo de ver catequeses com pessoas que se importam apenas com o discurso correto e que não se empenham em saber escutar as pessoas antes.

Se a gente escutasse nossos catequizandos, nossa evangelização seria muito questionada e – arrisco dizer – que poderia mudar os rumos para melhor. Atingiríamos as ´pessoas por dentro e creio que é isso que Jesus Cristo gostaria que nós fizéssemos. Afinal, você já parou pra pensar que Jesus tinha um impacto grande nas pessoas que vinham a ele porque a primeira pergunta que ele fazia era: O que queres que eu faça por ti? Jesus perguntava isso sempre, mesmo do cego Bartimeu, que era óbvio a sua resposta. (Mc 10 46-52) Mesmo sendo óbvio, Jesus se importava em escutar antes de falar ou fazer algo pela pessoa. Ah que bom seria se a gente levasse essa atitude do Cristo mais a sério. Não iríamos fazer os erros básicos que vimos repetindo a décadas. Escutar é valorizar, escutar é criar laços pessoais, escutar é criar cumplicidade e intimidade. E precisamos mais disso em nossas catequeses. Ouse escutar mais e melhor, antes de começar a vomitar respostas prontas. Abraços e rezem por mim.

Pe. Paulo Dalla-Déa

 

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