Catequese Urbana
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03/07/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Todos dependemos de todos
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O ser humano nasceu para viver em comunidade, uns partilhando com outros seus talentos, uns aprendendo com outros, todos sendo parte de uma grande família criada pelo Pai de todos. Na Bíblia, Deus se revela para formar um povo, não para ter adoradores isolados. Jesus também nasceu no meio desse povo e não trabalhou sozinho. Juntou discípulos, para formar novas comunidades. O cristão não vive sua fé isoladamente; na comunidade ele a alimenta e se sente chamado a  partilhar com alegria os dons que recebeu de Deus.            

Mas a fraternidade que Deus quer ver entre nós vai muito além do nosso relacionamento com os que estão conosco na igreja. Jesus destacou o grande mandamento de amar ao próximo quando contou a parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37). Ao explicar quem era o próximo, ele não disse: são aqueles que vivem perto de você. O samaritano se tornou próximo do homem ferido porque se importou com ele, cuidou dele, sem nem o conhecer. Ou seja: esse amor, que é o fundamento do que a lei de Deus nos pede, deve estar presente na família humana de maneira ampla, não restrita aos que já consideramos amigos.          

Essa fraternidade é o presente que Deus quer receber de nós. Ele não precisa de nada, mas o meio de lhe fazer algo agradável é cuidar bem dos seres humanos; ao valorizá-los estamos mostrando gratidão por essa imensa família que Ele nos deu. O próprio Jesus diz que tudo de bom que fizermos a um de seus irmãos mais pequeninos foi a ele que o fizemos (veja em Mt 25,31-40)            

Nossa espiritualidade cristã deve incluir um relacionamento de mútua dependência entre todas as pessoas. A Bíblia chama a atenção para isso de forma simbólica e impactante quando, depois de mostrar o ser humano fora do paraíso, apresenta a atitude de Caim após a morte de Abel. Deus lhe pergunta onde está seu irmão e ele dá uma resposta que ilustra bem uma atitude que tem prejudicado o ser humano ao longo da história: Por acaso sou guarda de meu irmão? (Gn 4, 8-9) Refletindo sobre isso percebemos que, para criar de fato um mundo mais seguro e feliz,  somos todos chamados a ser reciprocamente guardadores uns dos outros.     

A humanidade não sobrevive nem cresce sem solidariedade. Alguém gostaria de ter crescido sozinho numa ilha deserta? O que não teríamos numa situação assim? Não saberíamos nem falar, porque até isso aprendemos uns dos outros. Podemos lembrar o filme “Náufrago”, que retrata bem o desespero de se estar sozinho, quando o personagem até desenha um rosto humano numa bola, que chama de Wilson, para ter com quem conversar.        

Alfonso Garcia Rubio (no seu livro Unidade na Pluralidade) afirma: Cada pessoa é única, irrepetível e insubstituível, mas simultaneamente é relacionada com todos os outros seres pessoais. A relação é tão constitutiva da pessoa como sua unicidade.(...) Cada ser humano concreto  depende dos outros e se encontra com eles relacionado mediante uma multiplicidade de vínculos.        

Na catequese podemos propor uma dinâmica para refletir sobre como dependemos uns dos outros. É assim: Cada catequizando recebe um quadradinho de chocolate e é convidado a pensar na pergunta: De quantas pessoas precisamos para comer esse pedacinho de chocolate? As respostas vão sendo escritas numa folha bem grande. Mostramos a embalagem, onde  estão citados os ingredientes: leite, cacau, açúcar… E aí se multiplicam as perguntas: Quem plantou o cacau? Quem fabricou os instrumentos que esse lavrador usou? Quem criou e ordenhou as vacas?  Quem fabricou as vasilhas onde o leite foi recolhido? Quem plantou o cana de onde foi feito o açúcar? Quem transportou todas essas coisas para a fábrica de chocolate? Quem trabalhou para fabricar o veículo que conduziu esses  produtos? Quem pavimentou as estradas que esses veículos tiveram que percorrer? Quem construiu a fábrica de chocolate?  Quem produziu a embalagem? Quem levou esses chocolates para o super mercado onde os compramos? Quem construiu o supermercado e quem nos atendeu lá? … e cada pergunta vai gerando outras, porque cada coisa e cada pessoa depende de outras para poder existir e realizar algo.  Ao final da reflexão, todos são convidados a fazer em silêncio uma oração, enquanto saboreiam o quadradinho, por todas as pessoas  sem as quais não teríamos  acesso ao chocolate.          

Depois disso fica fácil perceber que o esquema dessa dinâmica se aplicaria a tudo mais de que precisamos diariamente: a casa em que moramos, a roupa que vestimos, a água que chega na nossa torneira, o transporte que usamos, a luz da lâmpada que ilumina nossa casa… e a lista não tem fim. Aí nossa espiritualidade se enriqueceria com a sensação de sermos todos uma só família, onde todos são convidados a cuidar de todos. Deus não poderia querer outra coisa. Que pai não ficaria feliz ao ver seus filhos unidos, solidários, na alegre vivência de ter cuidado com todos?           

Essa reflexão levaria a uma espiritualidade bem vivida no cotidiano, onde cada copo de água, cada viagem de ônibus, cada sinal de trânsito e tudo de que precisamos diariamente nos lembraria que somos parte de uma só família criada por Deus para viver em solidariedade.  

Therezinha Motta Lima da Cruz

 

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