Bíblia e Catequese
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10/04/2018 Therezinha Motta Lima da Cruz Bíblia e Catequese Os variados métodos de interpretação da Bíblia
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Já nos referimos à leitura fundamentalista, que leva tudo ao pé da letra, trazendo mais riscos do que benefícios no contato com as Escrituras. É um processo que não ajuda a perceber a real mensagem do texto e entra muitas vezes em conflito com o que hoje conhecemos, com a ciência, e cria problemas quando nossos catequizandos percebem que algum fato bíblico não deve ter acontecido exatamente como lhes foi comunicado. Em 1993 foi publicado um documento da Pontifícia Comissão Bíblica que trata exatamente desse assunto: A Interpretação da Bíblia na Igreja. 

É um texto que se preocupa principalmente com o que a Bíblia teria a dizer para nós hoje. Ou seja: o mais importante não é o que aconteceu (ou não) em cada episódio narrado pela Bíblia. O fundamental é a mensagem e, para captá-la adequadamente, precisamos de de diversos processos de interpretação. 

O documento começa valorizando o chamado “método histórico-crítico”, que busca apresentar a época, os problemas e a linguagem do tempo e da cultura em que os textos nasceram, para perceber melhor o que realmente estava sendo comunicado.  Nesse documento lemos: “Em suas diferentes etapas de produção, os textos da Bíblia são dirigidos a diversas categorias de ouvintes ou leitores, que se encontravam em situações de tempo e espaço diferentes.”  E sabemos que muitas vezes nossa linguagem muda, ainda hoje, se estamos falando com pessoas em diferentes estados emocionais e culturais. Examinar um texto sem saber em que situação ele nasceu é mais ou menos como ouvir alguém falando ao telefone sem saber o que a pessoa do outro lado da linha está dizendo: afinal, para entender uma resposta é bom saber a que tipo de pergunta ela se refere. 

O documento fala de outros vários métodos. Um deles é a abordagem da teologia da libertação que “procura fazer da Palavra de Deus a luz e o alimento do povo de Deus em meio a suas lutas e suas esperanças”. Para isso, destaca textos que falam da justiça que Deus exige no tratamento dos pobres, geralmente representados pelo órfão, o estrangeiro e a viúva que, na cultura do Antigo Testamento  eram o exemplo dos que estavam socialmente desamparados.  Outro método citado é a abordagem feminista, que utiliza um processo de suspeita: sendo a história regularmente escrita por homens, quer descobrir indícios meio escondidos de presença feminina para corrigir interpretações que poderiam justificar a dominação do homem sobre a mulher. 

São vários os métodos citados. Afinal, os acontecimentos narrados na Bíblia são acontecimentos interpretados, de acordo com a intenção do autor. Assim, devem ser reinterpretados por quem hoje vive uma situação diferente, já que a Palavra de Deus é viva, não está encerrada numa única ótica. Sendo inspirada por Deus, ela pode revelar hoje, com palavras de séculos atrás, o que Deus espera de nós em uma nova realidade. Essa reinterpretação diante de fatos novos acontece na própria Bíblia, em algumas situações, quando palavras de profetas do passado são relidas a partir do que Jesus veio trazer. Quem escreveu, por exemplo - em 2Samuel 7, que um filho de Davi reinará para sempre pensava em um descendente próximo do rei, mas depois, no Novo Testamento, esse trono eterno do “filho de Davi” é usado para falar da vitória final de Jesus. O documento diz: “ No decorrer da formação da Bíblia, os escritos que a compõem foram, em muitos casos, retrabalhados e reinterpretados para responder a situações novas, desconhecidas anteriormente”.

Mesmo sendo valorizados, nenhum método é considerado absoluto, porque isso poderia levar a exageros que deturpariam a mensagem.  Mas é muito  importante perceber, como diz o documento, em relação aos textos bíblicos,  que “para manifestar o alcance que eles têm para os homens e mulheres de hoje, é necessário aplicar a mensagem desses textos às circunstâncias presentes e exprimi-la numa linguagem adaptada à época atual”. Isso seria uma função básica da catequese: traduzir a mensagem para hoje, ajudando a perceber o que Deus estaria querendo nos dizer, em nossa situação concreta de vida, através de um texto escrito há tantos séculos por autores humanos que viviam em outra cultura. Se não fizermos isso, a Bíblia não produz o efeito de real comunicação de Deus, que é seu objetivo primordial. A Bíblia nasceu dentro da história de um povo escolhido por Deus para ser o comunicador de suas mensagens para todos os povos, em situações e culturas variadas. 

Alguns recursos podem ajudar: a leitura orante (que lê o texto para entender a mensagem original e depois aplicá-la à situação de cada um, em forma de oração), a recriação da mesma história no ambiente atual (por exemplo: para comunicar hoje a mensagem da parábola do bom samaritano, que personagens estariam no lugar do homem ferido, do samaritano, do sacerdote, do levita?), encenar uma entrevista com personagens bíblicos convidados a fazer uma viagem no tempo, vindo até nós... 

Nenhuma interpretação particular esgota o sentido de um texto bíblico. A Bíblia é luz, que mostra algo a mais, dependendo da situação que está sendo iluminada. Mas é inspirada pelo Espírito Santo e o que vemos a partir dela precisa concordar com a mensagem do grande projeto de Deus para a humanidade.

Ao ler a Bíblia, procuramos saber em que situação ela foi escrita? Ajudamos nossos catequizandos a ver o que cada texto está dizendo para nós hoje?  Percebemos coisas novas no texto quando o aplicamos a situações especiais que em um novo momento estamos vivendo?

Therezinha Motta Lima da Cruz

 

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