Em 2018, celebramos os 50 anos do Pentecostes especial, que a Igreja da América Latina teve, na cidade de Medellín, em agosto de 1968, inaugurado, porém, em Bogotá, em 24/08/1968 pelo Papa Paulo VI. A II Conferência do Episcopal Latino-americano foi realizada, nos dias 26 de agosto a 08 de setembro de 1968. A 1ª foi no Rio de Janeiro, em 1955. O Documento final de Medellín, 68: “A Igreja na atual transformação da América Latina”, pode ser considerado todo ele catequético, mas aqui nos limitaremos a alguns parágrafos do seu Capítulo 8 *Catequese”. Interessa-nos apresentar o marco divisor, referencial, o paradigma de Medellín 68 para a renovação da Catequese no Continente latino-americano e no Caribe, paradigma para nós ainda hoje.
1) Primeiro aspecto do novo paradigma: Catequese evangelizadora. Eia o que diz Medellín:
A catequese na América Latina deve ser eminentemente evangelizadora, sem pressupor uma realidade de fé antes de oportunas constatações. Pelo fato de se dar o batismo a crianças pequenas, confiando na fé das famílias, já se torna necessária uma Evangelização dos Batizados como uma etapa na educação de sua fé (Medellín Cap. 8, nº 9).
Igreja, na Assembleia de Medellín, em 1968, constatou que a realidade dos católicos, batizados quando crianças, exigia uma mudança radical no conceito e prática da catequese, porque os batizados precisavam ser evangelizados. Isto significava, portanto, que a catequese tinha de ser evangelizadora. Era algo inusitado e impensável para a época, como ainda o é, hoje, para muitos, mesmo com todos os passos dados sobre a importância essencial do Kerigma, isto é, do primeiro anúncio, que conduz ao encontro pessoal e intransferível com Jesus e ao compromisso existencial com Ele, com a Igreja e com a Missão. A Iniciação à Vida Cristã e a Catequese de Inspiração Catecumenal a serviço desta Iniciação, vem resgatando aos poucos essa urgência do processo evangelizador, não apenas na Catequese, mas em tudo o que a Igreja é e faz.
2) Segundo aspecto do novo paradigma: Catequese Libertadora. Citemos Medellín:
“A catequese atual deve assumir totalmente as angústias e esperanças do homem de hoje, a fim de oferecer-lhe as possibilidades de uma libertação plena, as riquezas de uma salvação integral em Cristo, o Senhor. Por isso, deve ser fiel à transmissão, não só da mensagem bíblica em seu conteúdo intelectual, como também à sua realidade vital encarnada nos fatos da vida do homem de hoje. As situações históricas e as aspirações autenticamente humanas constituem parte indispensável do conteúdo da catequese. E devem ser interpretadas seriamente, dentro do seu contexto atual, à luz das experiências vivenciais do Povo de Israel, de Cristo, e da comunidade primitiva, na qual o Espírito de Cristo Ressuscitado vive e opera continuamente” (Doc. 8, nº 6).
Para a hierarquia e o povo católico esta proposta era revolucionária e ainda o é. Reinava, de modo absoluto, o sistema “catecismo” (resumo da História Sagrada, da Vida de Jesus e síntese filosófica teológica da fé), mas sem incidência na conversão das pessoas. Era o catecismo de preparação à Primeira Comunhão e ao Crisma. Tal arcabouço não admitiria jamais que as aspirações humanas de libertação, os fatos da vida de cada dia, as situações históricas, constituíssem parte indispensável do conteúdo da Catequese.
Mas, se a família, a sociedade e o mundo estavam tomados pelo cristianismo (Cristandade), o que faltava era apenas a complementação com o conhecimento dos conteúdos da fé vivida, mas pouco ou nada compreendido. Mas a Cristandade acabou (o aquário cristão desapareceu) e continuamos com o catecismo cognitivo, a liturgia do passado, etc. Neste contexto, que ainda perdura em muitos lugares, que força têm o resgate da inspiração catecumental, da Iniciação à Vida Cristã e do Paradigma de Medellín 68?
Ir. Israel José Nery
