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02/08/2017 Pe. Luiz Alves de Lima Publicações O documento Catequese Renovada da CNBB (1983)
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Pe. Luiz Alves de Lima

A Cnbb em 15/04/1983 na 21ª Assembléia Geral aprovou o documento Catequese renovada: orientações e conteúdo (CR). É o documento mais importante para a Igreja do Brasil em termos de catequese, até a publicação do novo Diretório Nacional de Catequese (DNC). Realmente, impulsionou a renovação da catequese nestes últimos anos. Embora esteja sendo publicado o DNC, esse documento CR permanece como uma grande referência de nossa catequese. Entre CR e DNC não há ruptura, mas continuidade. No Estudo da Cnbb intitulado Formação de Catequistas de 1990 (nº 19-30), apresento em resumo 10 características da catequese renovada. No DNC estas características são resumidas nos 13 pontos seguintes (citação ao pé da letra):

- Catequese como processo de iniciação à vida de fé: é o deslocamento de uma catequese meramente doutrinal para um modelo mais experiencial, da catequese das crianças para a catequese com adultos. Tanto a dimensão doutrinal como a da experiência estão integradas no processo de tornar-se discípulo de Jesus. O processo catecumenal começa a ser o modelo metodológico de uma catequese que quer levar a uma experiência de Deus; vida litúrgica e orante tornam-se indispensáveis.

- Iniciação à vida de fé em comunidade: conforme a pedagogia de Deus, Ele se revela no dia-a-dia depessoas que vivem em comunidade. A catequese é concebida como uma iniciação à fé não só individual, mas comunitária, embora a dimensão pessoal seja também importante. [A comunidade de fé se constitui, assim, em fonte, lugar e meta da catequese [1]].

- Processo permanente de educação da fé: se a catequese é o momento da iniciação à fé, a formação cristã prolonga-se pela vida inteira. Além das crianças, os adultos começam a merecer maior atenção. 

- Catequese cristocêntrica: conduz ao centro do Evangelho (querigma), à conversão, à opção por Jesus Cristo que nos revela o Pai, no Espírito Santo (dimensão trinitária) e ao seu seguimento. Embora a catequese esteja a serviço da pessoa humana em sua situação concreta (dimensão antropológica), ela procura educar para a vivência do mistério dAquele que revelou o homem ao homem, o novo Adão, Jesus Cristo. É uma catequese cristológica com dimensão antropológica.

- Ministério da Palavra: a catequese é considerada anúncio da Palavra de Deus, a serviço da qual se coloca. O verdadeiro catequista tem a convicção (mística) de que é profetahoje, comunicando a Palavra de Deus com todo seu dinamismo e eficácia, na força do Espírito Santo. A Bíblia é considerada o livro da fé, e por isso mesmo, o texto principal da catequese. Os livros litúrgicos traduzem esta palavra em celebração e os catecismos ou textos de catequese se caracterizam por “dar razões da própria fé”. Os catecismos são utilizados em sua função de subsídio a serviço da iniciação ao conhecimento bíblico [2]. O princípio da interação fé e vida, aplicado à leitura da Bíblia, gera um tipo de leitura vital e orante da Palavra de Deus.

- Coerência com a Pedagogia de Deus: a renovação da catequese assume a doutrina sobre a Revelação contida na Dei Verbum, com suas conseqüências. O modo de educar a fé segue o mesmo "processo e pedagogia" que Deus usou para revelar-Se, isto é: revelação progressiva através de palavras e acontecimentos, por dentro da vida da comunidade, o respeito pela caminhada da comunidade, o amor pelos pobres e a conseqüente paciência (em sentido bíblico) no processo de educação da fé. 

- Catequese transformadora e libertadora: a mensagem da fé, iluminando a existência humana, forma a consciência crítica diante das estruturas injustas e leva a uma ação transformadora da realidade social. CR introduziu o conceito de ações evangélico-transformadoras como aprofundamento do tradicional conceito de atividades pedagógicas. A catequese tem por tarefa introduzir o cristão nestas ações "inspiradas pela experiência de Deus na caminhada da comunidade; educam evangelicamente para as mudanças do ambiente que nossa fé exige e inspira" [3].

- Catequese inculturada: a catequese quer valorizar e assumir os valores da cultura, a linguagem, os símbolos, a maneira de ser e de viver do povo nas suas diversas expressões culturais [4]. Não se trata só da cultura popular ligada mais ao ambiente rural e às vezes pré-moderno, mas também da cultura surgida da modernidade e pós-modernidade, cujo lugar privilegiado são os grandes espaços urbanos.

- Interação fé e vida: o conteúdo da catequese compreende dois elementos que se interagem: a experiência da vida e a formulação da fé. A afirmação do princípio de interação é a recusa do excesso de teoria desligada da realidade e do dualismo que desvaloriza as necessidades do aqui e agora, da vida terrena dos filhos de Deus [5].

- Catequese integrada com as outras pastorais: como dimensão, a catequese está presente em todas as pastorais, e como atividade específica articula-se com as demais. A catequese respira profundamente a vida da Igreja, celebrada na liturgia, expressa nas suas orientações e na prática pastoral das comunidades. A catequese se beneficia dessa articulação ao mesmo tempo em que contribui para uma pastoral orgânica ou de conjunto.

- Fonte de espiritualidade: um dos temas centrais da formação do catequista é sua espiritualidade: ela brota da vida em Cristo e se expressa a partir da própria atividade de educador da fé, da mística daquele que está a serviço da Palavra de Deus. É uma espiritualidade bíblica, litúrgica, cristológica, trinitária, eclesial, mariana e encarnada na realidade do povo [6].

- Opção preferencial pelos pobres: a Igreja redescobriu os pobres não só como destinatários de sua missão, mas também como evangelizadores. Não se trata de um tema da catequese, mas de uma perspectiva geral, que orienta concretamente objetivos, sujeitos e destinatários, conteúdo, métodos, recursos e a própria formação de catequistas.

- Temas e conteúdo: A CR descreveu em sua terceira parte os temas fundamentais da catequese. Trata-se de um conjunto de mensagens a ser adaptado aos destinatários quanto à seleção de temas, linguagem, metodologia. Deseja-se principalmente que seja vivido na caminhada da comunidade. O eixo central que permeia a apresentação da mensagem é o da comunhão-participação num processo comunitário. A quarta parte de CR descreve o processo pelo qual interagem o conteúdo da fé e a transformação da vida pessoal e social.

Pe. Luiz Alves de Lima é salesiano, catequéta, professor de catequética no Pio XI em SP.

 

[1]  Este foi um dos pontos centrais do projeto inicial de CR; seu autor, Pe. Wolfgang Gruen, assim se exprimia após a aprovação de CR: "Como não podia deixar de ser num documento nascido dentro da experiência brasileira, Catequese Renovada dá especial ênfase ao papel da comunidade na catequese. Isto fica claro desde a Apresentação (no final) e a 1ª parte (A catequese e a comunidade na história da Igreja) até a 4ª parte, dedicada especificamente à comunidade com seus passos concretos. Mas vejam-se também os nº 54-55, 118-120, 127, 130, 135, 137 - sem falar do Temário (3ª parte [nº 164, 213-215, passim]). A novidade é que agora a comunidade não é só lugar da catequese: sua caminhada é elemento constitutivo de seu conteúdo. Finalmente, o espírito de Medellín está concretizado num documento". W. Gruen,  Novas orientações para a catequese no Brasil in Revista de Catequese 7(1984) nº 27, pp. 41.

[2] Cf CNBB, TM, nº 23-36.

[3] CNBB, TM nº 129; Cf nº 125-136; 189-195. Este documento aprofunda o conceito de atividades evangélico-transformadoras que tem sua origem nas práticas das CEBs.

[4] Na verdade o problema da inculturação não está muito presente em CR. Aí, quando se fala da necessidade de iluminar a vida com a mensagem evangélica, se entende mais os aspectos sociais, políticos e econômicos. A forte consciência a respeito do elemento cultural na catequese foi fruto da evolução posterior, principalmente com a Mobilização Nacional (1989-1991), já sob o influxo dos preparativos para a Assembléia de Santo Domingo, a prática e reflexões posteriores.

[5]  Cf. W. Gruen, Interação entre experiência e mensagem na catequese in Revista de Catequese 6 (1983) nº 24,  pp. 27-36.

[6] Cf CNBB, FC nº 157.

 

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