Bíblia e Catequese
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27/06/2018 Therezinha Motta Lima da Cruz Bíblia e Catequese Números simbólicos na Bíblia
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A linguagem da Bíblia utiliza muitos recursos simbólicos. São frases que não devem ser tomadas ao pé da letra, mas nem por isso deixam de expressar a verdade, revestida de uma roupagem especial. Aliás, a linguagem simbólica traz verdades até mais profundas. Se contamos algo exatamente como aconteceu, nosso relato se limita ao momento em que o fato ocorreu. Se usamos linguagem simbólica, o significado se amplia porque aí pode ser aplicado a situações de outros tempos e lugares, é uma reflexão sobre o significado da vida em todos os tempos. 

Isso vale para a maneira de contar a história do povo, muitas  vezes exagerando na descrição dos fatos para comunicar que o que está sendo narrado foi muito mais importante na formação da identidade do povo do que poderia parecer. Nós também usamos exageros para comunicar sentimentos. Cantamos no hino nacional: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante.... E margem de rio não tem ouvido nem havia um povo em volta de D. Pedro quando ele proclamou a independência (mas hoje queremos que o povo se sinta motivado a defender a liberdade e seus direitos). Se estamos irritados porque alguém não segue orientações nossas que julgamos importantes podemos dizer: _Já te disse mil vezes para não fazer isso! E é claro que o número 1000 aí não diz exatamente quantas vezes falamos sobre esse assunto... 

Na Bíblia começamos a estranhar os números quando vemos as idades dos patriarcas e figuras simbólicas, com gente vivendo mais de setecentos anos nos primeiros capítulos de Gênesis. Não precisamos brigar com antropólogos que dizem que seria impossível um ser humano viver tanto... As idades avançadas vão diminuindo à medida que a história avança, porque esses números são um jeito de dizer que o pecado foi crescendo e se espalhando na humanidade e prejudicando a qualidade da vida. 

Mas há números que têm um sentido especial. Por exemplo:

- 3 : dizer que algo aconteceu 3 vezes é confirmar o efeito do fato.  Pedro negou Jesus 3 vezes, isto é, negou de verdade, pra valer. E depois da ressurreição afirma 3 vezes que ama Jesus, ou seja: retomou de verdade a posição de seguidor do Mestre amado. Jesus ressuscita no terceiro dia, um jeito de dizer que sua morte foi um fato significativo.

- 4: faz lembrar os 4 pontos cardeais, expressando que algo se espalha pela terra inteira. O rio (sinal de vida) que saía do jardim do Eden se dividia em 4 braços (símbolo da vida que Deus queria dar a todos os povos).

- 7: é o completo, a plenitude. Quando Jesus diz para perdoar 70 vezes 7, não está dizendo que temos que perdoar 490 vezes, mas que temos que perdoar sempre. Madalena foi libertada do poder de 7 demônios (ou seja: de todo tipo de mal).

- 12: é o número que representa o povo, que começou com 12 tribos. Jesus, ao escolher 12 apóstolos quer dizer está formando um novo povo. Quando no Apocalipse se diz que são 144 000 os marcados como servos de Deus não precisamos ficar achando que agora não há mais vaga para nós entre os eleitos. Não se trata de um número exato. 144 000 = 12 (representando o povo de Israel) x 12 ( representando todos os povos) x 1000 ( uma grande multidão). Nesse simbolismo há espaço para todos em todos os tempos.  Quando Jesus multiplica os pães sobram 12 cestas (= se multiplicarmos nossas ofertas aos que têm fome haverá comida para todo o povo).

- 40 : representa o tempo necessário para um comportamento fazer o efeito desejado: Moisés ficou no monte 40 dias; Jesus fica 40 dias em jejum no deserto e permanece aparecendo como ressuscitado na terra por 40 dias. 

Numa catequese inicial de crianças não vamos entrar nesses detalhes, até porque elas ainda não estariam preparadas para essa espécie de reflexão. Mas conhecer o valor simbólico da apresentação de certos números ajuda a perceber que a Bíblia, como qualquer texto que fale de sentimentos e de algo que vai além do que percebemos só com os sentidos, perde muito do seu significado real e profundo se for lida ao pé da letra. Aos poucos isso tem que ir sendo comunicado, até para evitar que, mais adiante, alguém vá achar que a Bíblia está dizendo coisas absurdas. 

O importante, desde o início da catequese, é deixar claro que dizer que uma parte do texto é simbólica, poética ou expressa em linguagem figurada não é afirmar que ali não há verdade, o que há é um tipo de verdade ainda mais profunda para nos fazer refletir. Uma verdade expressada em linguagem simbólica é capaz de iluminar o que acontece em outros tempos e situações, é um chamado a refletir sobre o sentido da vida. 

Estamos sabendo lidar com a linguagem simbólica das Escrituras? Uma boa preparação poderia ser o contato com as linguagens simbólicas de outros tipos de literatura (poesia, parábolas fora da Bíblia, provérbios populares, canções, cenas de filmes...). Se os catequizandos souberem identificar as boas mensagens que esses materiais nos trazem, percebendo que a verdade também pode se apresentar nesse formato, estariam mais preparados para perceber o que a Bíblia de fato quer nos dizer.  

Therezinha Motta Lima da Cruz

 

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