Catequese Urbana
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30/08/2019 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Ninguém gosta de ser anônimo
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Temos hoje, principalmente nos ambientes urbanos, a identidade religiosa como uma escolha pessoal, não mais como algo tradicionalmente herdado dentro do ambiente cultural em que as pessoas nascem e crescem. Para alguém escolher ser Igreja é fundamental que se sinta bem na comunidade e que descubra alegria no que lhe é proposto. O Documento de Aparecida fala 57 vezes em alegria, ao descrever o que se espera que aconteça na evangelização. Essa alegria tem a ver com uma apresentação positiva do que estamos comunicando. Não podemos falar de Deus como um juiz que nos assusta. Precisamos mostrar que a evangelização melhora nossa vida, nos anima. A maior alegria, é claro, vem do precioso presente que Deus nos dá através de Jesus. Essa vida divina oferecida por amor a nós é algo muito estimulante, principalmente porque nos comunica que somos valiosos para Deus, que Ele nos ama e não quer nos perder, apesar de todas as nossas eventuais fraquezas. 

Jesus se apresenta no capítulo 10 do evangelho de João como pastor que conhece suas ovelhas pelo nome. É o bom pastor que tem intimidade com quem está a seu cuidado. Nenhuma ovelha se sente anônima no meio desse rebanho. E como nos sentimos sabendo que Ele nos vê assim, nos chama pelo nome, conhece nossos talentos, nossas dificuldades, está ao nosso lado de forma pessoal? E Ele não faz isso só conosco, é companheiro de cada pessoa na grande família dos filhos e filhas de Deus... 

Aliás, Jesus é perito em prestar atenção em quem dele se aproxima. Certa vez estava no meio de uma multidão, percebeu alguém com uma necessidade especial e perguntou: Quem me tocou? (Mt 5,25-34). Seus discípulos até estranharam que ele percebesse isso no meio de tanta gente. Jesus vai ao encontro das pessoas porque está atento aos sentimentos de quem está à sua volta. E ali curou a mulher que estava no meio do povo, quase sem coragem de fazer seu pedido específico, já que, sofrendo de hemorragia, era considerada impura na tradição daquele povo. Jesus até elogiou a fé que ela demonstrou ao achar que bastaria tocá-lo para conseguir a cura. 

É ele quem chama os discípulos mostrando que estavam sendo especialmente escolhidos. Ele percebe uma mulher encurvada na sinagoga, chama-a e lhe dá a cura (Lc 13, 10-13). Zaqueu, por exemplo, também está no meio de uma multidão e sobe na árvore porque quer vê-lo. Mas é Jesus que, ao vê-lo, se oferece para ir à casa dele, onde os dois têm uma conversa que mudou a vida do  Zaqueu (Lc 19, 1-10). Natanael, que até achava que de Nazaré não podia vier nada de bom,  o reconhece como Filho de Deus, depois que Jesus prestou atenção nele , vendo-o debaixo da figueira (Jo 1,43-49). Até depois de ressuscitado, Jesus vai ao encontro de Saulo (At 9), que a partir disso muda os objetivos da sua vida.          

São exemplos que devem inspirar a vivência da nossa identidade catequética. Só viveremos o verdadeiro amor fraterno se cada pessoa for acolhida como um presente especial de Deus. Nenhum catequizando pode ser simplesmente um a mais dentro da comunidade. Todos precisam se sentir conhecidos, valorizados, identificados e atendidos, cada um a seu jeito. Quando apresentamos, por exemplo, um mandamento do tipo “honrar pai e mãe”, possivelmente precisaremos de uma conversa especial com aqueles catequizandos que têm problemas sérios na família. Mas como vamos saber disso se não conhecermos direitinho cada pessoa que estamos acolhendo na comunidade? E esse conhecimento tem que ser fraterno, acolhedor, não tem estilo de julgamento. Para se sentir em casa na igreja, cada pessoa tem que ser bem conhecida, bem recebida. Então vamos viver a magnífica experiência de dar e receber , de ensinar e aprender uns com os outros.      

O Documento de Aparecida já fala da importância de cada um se sentir identificado, acolhido, conhecido com carinho fraterno, quando afirma:          

A Igreja não cresce por proselitismo mas por atração: como Cristo, atrai tudo para si com a força do seu amor. A Igreja atrai quando vive em comunhão pois os discípulos de Jesus serão reconhecidos se se amarem uns aos outros como Ele nos amou (cf Rm 12,4-13; Jo 13,34) Dap 159

Cada comunidade é chamada a descobrir e integrar os talentos escondidos e silenciosos que o Espírito presenteia aos fiéis. DAp 162      

É claro que, para descobrir os “talentos escondidos” de cada um, precisamos prestar atenção em cada pessoa, saber ouvir, viver com alegria a experiência de conhecer a história de vida de quem passa por nós, já que todos são obras especiais que Deus coloca em nosso caminho.       

O Documento de Aparecida, que fala tanto da alegria de viver o evangelho, tem uma mensagem final assim: Em nosso serviço pastoral, convidamos a dedicar mais tempo a cada pessoa, escutá-la, estar ao seu lado nos seus acontecimentos importantes e ajudar a buscar com ela as respostas às suas necessidades. Façamos que todos, ao ser valorizados, possam sentir-se na Igreja como em sua própria casa.       

E quem de nós gostaria de ficar numa comunidade onde estivesse totalmente anônimo, onde fosse apenas um número a mais numa lista, sem ter ninguém realmente interessado em se relacionar conosco?          

Conhecer cada um, saber ouvir, trocar experiências com o catequizando não é um trabalho a mais, é uma alegria e uma conquista, um presente que a catequese nos dá.  Anthony de Mello, no seu livro  Verdades de um minuto, nos apresenta um pequeno diálogo com uma reflexão assim:

       - Por que viaja tão pouco? perguntou o repórter ao Mestre.

       - Para olhar uma única pessoa ou coisa todos os dias do ano e nunca deixar de encontrar algo novo nela. É a aventura mais emocionante que existe.       

A catequese nos convida a viver essa importante aventura. Assim vamos poder ajudar os que nos cercam mas depois vamos descobrir que nós recebemos uma ajuda ainda maior: ganhamos amigos, compreendemos melhor a vida quando nos tornamos sensíveis às necessidades dos companheiros de caminhada que Deus nos oferece.      

Uma atividade interessante (para os catequizandos e para nós também) seria fazer a lembrança de pessoas que marcaram a nossa vida estimulando boas mudanças. Depois poderíamos escrever esses nomes e colocá-los diante de Deus em oração, agradecendo e pedindo que esses exemplos nos estimulem a conhecer melhor cada pessoa que encontramos em nosso caminho.

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