Catequese Urbana
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13/08/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Estar com Deus no mundo urbano e tecnológico
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Quando falamos da Criação em geral pensamos nas belas paisagens da natureza. Nesse clima nos acostumamos a admirar as obras de Deus, quase no estilo do Salmo 148, que convida os elementos da natureza (estrelas, sol, céu, vegetais, animais, seres humanos…) a louvar o Senhor. Certa vez, num encontro de catequistas em Belo Horizonte, foi proposto que se admirasse a paisagem do alto do local onde o pessoal se reunia e a partir daí cada um fizesse sua oração. Mas alguns reclamaram porque a paisagem era urbana, cheia de edifícios, ruas, carros. Era como se essas coisas estivessem impedindo a visão do que seria “obra de Deus”. Mas todas as invenções e construções humanas, além de só serem possíveis porque Deus deu aos seres humanos esse potencial criativo, podem inspirar uma conversa com o Pai se a nossa espiritualidade souber ver a vida por inteiro. No Concílio Vaticano II a Constituição Pastoral Gaudium et Spes já dizia: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. (GS 36).

Helder Câmara entendia bem isso e até chama o ser humano de co-criador (porque Deus nos deu capacidade para criar coisas novas no mundo). Então, como um convite para estarmos sempre percebendo a presença de Deus em todos os setores da vida, ele escreveu:

       Tudo é tocado de mistério

       Porque tudo vem de tuas mãos

       Ou das mãos do co-criador:

       O papel em que escrevo, a caneta que uso,

       A mesa em que me acho,

       Os livros que me cercam,

       A roupa que visto,

       O ar que respiro,

       A luz que contemplo,

       O chão que me sustém.

       O coração estremece de alegria,

               Impressão nítida de integração universal.         

No mundo urbano de hoje, temos o domínio de novas tecnologias. A garotada conversa mais com aparelhos cibernéticos do que com os amigos e nem sempre consegue distinguir o que realmente é útil nesse campo e o que é domínio de outros interesses. Não é incomum ver, por exemplo, num restaurante, pessoas sentadas na mesma mesa conversando pelo celular em vez de se olharem e prestarem mais atenção uma à outra.  Não podemos deixar de reconhecer que o ambiente cibernético tem suas vantagens (eu mesma estou escrevendo este texto num computador, que além disso me ajuda muito a fazer pesquisas). Mas aí temos também um terreno com ideias e propostas que não seriam construtivas e podem nos levar a caminhos errados. Mesmo tendo sido escrita em 1965, bem antes do estabelecimento desse cenário, a Gaudium et Spes já alertava para a necessidade de distinguir o modo certo de utilizar novas tecnologias porque “o mundo moderno se apresenta ao mesmo tempo poderoso e débil, capaz de realizar o ótimo e o péssimo...” (GS 9)  Conversar sobre isso faz parte da função da catequese, que precisa formar crianças e jovens para que façam escolhas corretas e saibam avaliar o que ouvem e veem nos meios de comunicação, sabendo usar o que é útil e rejeitando o que está mal direcionado.           

Lembro de uma situação em que minha neta, com 10 anos, foi fazer uma pesquisa no computador para dar conta de um dever de casa que a escola havia pedido sobre “Gente brasileira”. A professora não orientou a pesquisa. A menina resolveu começar procurando algo sobre o povo nordestino. Achou, copiou com letra bonita o que vira no computador e veio me mostrar a primeira frase, que era assim; “Nordestino é uma escória que o país só aceita porque precisa de gente que trabalhe com baixo salário.”   Ela não sabia o que era “escória”, não compreendera direito a frase e ficou horrorizada quando eu lhe expliquei a postura ofensiva e injusta do que ali estava expresso. É claro que haveria outros sites dignos de confiança sobre o assunto, mas ela não estava preparada para buscar o mais correto.         

Discernimento é essencial para ninguém entrar por um caminho errado achando que está certo.  O mundo moderno tem muitos recursos que podem levar a um bom nível de conhecimento, favorecendo escolhas produtivas. A catequese é chamada a ajudar nesse discernimento. Os catequizandos precisam perceber a diferença entre usar a tecnologia e ser dominado por ela a ponto de nem avaliar o que lhe é apresentado no mundo cibernético, na TV, no jornal. Catequistas podem apresentar sites de boa qualidade, propor trabalhos de pesquisa bem orientados. Podem montar junto com os catequizandos mensagens bonitas em power point para serem projetadas na comunidade ou em instituições ligadas à pastoral social da paróquia. Podem sugerir programas de televisão e filmes com bom conteúdo, para depois serem debatidos. Os catequizandos podem criar no computador livrinhos com mensagens e ilustrações bonitas e depois imprimir para dar de presente aos colegas, à família, a crianças pobres.          

O importante é cultivar uma espiritualidade que ajude a viver na presença de Deus o tempo todo, no meio de todos os recursos, atividades, serviços, situações que o mundo urbano moderno nos apresenta. Aí poderíamos propor que os catequizandos criassem o hábito de contar seu dia para Deus (mesmo que, é claro, Ele já saiba o que foi vivido nesse tempo), conversando com Ele sobre o que sentiram, aprenderam, aprovaram ou desaprovaram e pedindo sempre sabedoria para que a experiência de cada dia seja a aventura emocionante de crescer na fé, na fraternidade, no bom desenvolvimento dos talentos que recebemos. 

Therezinha Motta Lima da Cruz

13.08.2020

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