Bíblia e Catequese
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30/07/2018 Therezinha Motta Lima da Cruz Bíblia e Catequese Das mulheres estéreis à virgindade de Maria
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No Antigo Testamento a procriação era vista como uma bênção essencial. O povo precisava crescer para poder ter importância entre as nações vizinhas. Ter muitos filhos era sinal de aprovação diante de Deus e de prestígio na sociedade. Quem não tinha filhos se sentia um tanto desamparado, desvalorizado diante da comunidade e de Deus. O sucesso do futuro – tanto da pessoa como do povo-  estava ligado à capacidade de gerar muitos filhos. No meio desses filhos, o primogênito era uma espécie de herdeiro privilegiado, considerado como uma espécie de sucessor do pai. Mas muitas vezes Deus inverteu esses costumes e deu missões mais importantes para quem não tinha nascido primeiro. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os gêmeos Esaú e Jacó. Esaú nasceu primeiro, mas foi Jacó que deu origem às 12 tribos. Davi também não era o primogênito, era o mais novo de seus irmãos e acabou sendo o rei mais importante de Israel. Essa era também uma maneira simbólica de mostrar que Deus muitas vezes escolhe o menor, o menos prestigiado socialmente, para missões importantes. Afinal, quando Ele resolveu se encarnar no meio do povo, não nasceu numa família rica, cheia de prestígio, mas quis ser o simples filho na família do carpinteiro José. É bom lembrar disso quando vemos pessoas simples serem socialmente desvalorizadas numa sociedade em que há  classes  que se consideram mais importantes.

Numa época em que as mulheres não tinham como se sustentar por sua conta, era normal que um homem tivesse várias mulheres. Isso era até uma espécie de proteção oferecida às mulheres e, é claro, um meio de ter mais filhos. As mulheres se sentiam valorizadas tendo filhos e ser estéril trazia tristeza e humilhação.

Mas a Bíblia mostra Deus lidando com mulheres consideradas estéreis e dando a elas a oportunidade de gerar filhos quando isso parecia impossível. É o que vemos, desde o começo, com Sara, casada com Abraão. Ela não conseguia ter filhos mas, como isso era importante, propôs a Abraão que se unisse a sua escrava Agar para que um descendente fosse gerado. A criança nasceu, Agar foi se considerando superior, querendo humilhar Sara. Mas Deus tinha outros planos e faz a estéril Sara se tornar mãe depois de estar bem velha. O filho, Isaac, foi o grande sucessor do pai. 

Há outras mulheres estéreis destacadas no Antigo Testamento. Raquel, casada com Jacó,  só via filhos nascerem para ele de sua irmã Lia e de suas servas. E Bíblia diz que “Deus se lembrou de Raquel, ouviu sua prece e lhe abriu o útero”. Aí nasceu José, aquele que depois vai ter uma história importante, sendo vendido para os irmãos e indo para o Egito. Outra  mulher estéril que vai gerar um filho importante para a história do povo é Ana (1º livro de Samuel), casada com Elcana e humilhada pela outra esposa do marido, que tinha filhos. Triste, Ana vai ao santuário  chorando rezar . O sacerdote nem entende o que ela está fazendo ali, acha que esta embriagada murmurando palavras sem sentido. Ana depois fica grávida e nasce Samuel, que vai ter uma importante missão profética.

A gravidez dessas mulheres consideradas estéreis, na Bíblia, é um modo de Deus anunciar que a criança que vai nascer é importante, vai ter parte forte na história do povo. Mas depois, quando se trata de Maria, a criança que vai nascer é a mais especial de todas na história da humanidade inteira. Então, Deus vai usar um sinal ainda maior para destacar o que está acontecendo: em vez de ter uma mulher estéril concebendo, dessa vez vai ser uma virgem, porque a criança tem uma relação especial com o Pai, que não é deste mundo. Dizemos então que a gravidez das mulheres estéreis era um sinal que preparava o povo para entender algo muito maior que iria acontecer depois, com o nascimento de Jesus.

Muitas vezes passagens do Antigo Testamento têm essa função de ser uma espécie de amostra menor de algo mais importante que vai acontecer com Jesus. Por exemplo: Moisés recebe os mandamentos no alto do monte Sinai e Mateus mostra Jesus nos dando orientações mais avançadas ainda no chamado “sermão da montanha”. A ceia da Páscoa dos judeus depois vai dar lugar à ceia em que Jesus nos deu a Eucaristia.

Quando Maria, visitando Isabel, sente a alegria da missão que lhe foi dada com essa maternidade, sua oração (que chamamos de Magnificat) tem semelhanças com o cântico de Ana em 1 Samuel 2. Mas em Maria a ação de Deus se amplia muito porque Jesus é a pessoa mais importante que a humanidade já conheceu.

Assim, muitas coisas que temos no Antigo Testamento são uma espécie de preparação remota para o que vai ver depois com Jesus. Isso nos mostra que cada mensagem bíblica deve ser percebida dentro do conjunto total da história da Salvação apresentada nas Escrituras. Os fatos não são isolados e devemos perceber como a mensagem vai evoluindo.

Como apresentamos a relação entre Antigo e Novo Testamento? Ajudamos a ver como as mensagens, ainda imperfeitas e incompletas do começo da história bíblica, evoluem e chegam ao seu cume em Jesus?

Therezinha Motta Lima da Cruz 

 

 

 

 

 

 

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