Catequese Urbana
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02/03/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Auto estima e amor ao próximo
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Na cultura moderna e urbana, muitos se sentem desvalorizados diante do que percebem nas redes sociais e da maneira como são tratados quando destoam do comportamento que está mais na moda. Essa desvalorização pode incapacitá-los para muita coisa boa porque quem não acredita em seu próprio potencial já se sente derrotado antes de começar qualquer tarefa. É o que nos comunica esta parábola:

      Sapinhos tentavam subir um morro. O pessoal em volta gritava: Vai cair! Vai cair! E eles de fato iam escorregando e caindo. No final, só um chegou ao alto do morro. E conseguiu isso porque era surdo… 

Podemos ter catequizandos com problemas de falta de auto estima, especialmente em comunidades mais pobres. Auto estima não é vaidade, é  condição necessária para por em ação seus talentos e realizar boas obras. O grande mandamento que Deus nos deu é “amar ao próximo como a si mesmo”. Deus se expressou assim porque sabe que quem não reconhece seu próprio valor está despreparado para prestar serviço ao próximo porque não se percebe capaz de fazer algo que preste. Não é óbvio? Se alguém não se valoriza, se acha sempre incapaz, não vai ter animação para realizar algo melhor, para ajudar outros, para corrigir o que estiver errado. Só vai saber dizer: eu não levo jeito para isso, vou passar vergonha se tentar...

Numa grande cidade, podemos ter no mesmo grupo gente de classe média, com boa instrução e outros que moram na favela mais próxima e estão acostumados a ser desvalorizados. Aí temos que dar a eles uma atenção especial. É importante comemorar seus aniversários (até porque alguns  não conseguem isso em casa). Mas é preciso também mostrar que são capazes de fazer coisas que a comunidade vai saber apreciar, como, por exemplo: participar de um coral e de dramatizações, ser percebidos como “ajudantes” de trabalhos catequéticos, ter seus desenhos expostos em cartazes. Precisam ouvir muitas vezes as frases “mágicas”, do tipo: Eu sei que você consegue! Seu trabalho ficou bem bonito! Estamos precisando da sua ajuda! Se desta vez não deu certo, tenho certeza que da próxima vez você vai conseguir!

Pessoalmente, numa situação difícil,  um dia recebi uma valorização desse tipo que mudou minha vida. Experimentei um grande desastre no meu estágio no curso de formação de professoras. Tinha que dar uma aula e não consegui porque, sem saber o que fazer com alunos que eram muito indisciplinados, saí correndo da escola, abandonando a turma. Aí pensei em desistir de ser professora. No fim do mês, veio uma nota 9 em Prática de Ensino no meu boletim. Fui procurar a professora porque achei que não estava certo, que eu merecia um zero. E ela me disse: “ _Não dei nota para a professora que você foi naquele dia, dei nota para a professora que um dia tenho certeza que você vai ser. Aquilo foi um acidente, não é algo que define você. Mas essa história ainda não acabou porque você vai dar aula de novo e eu vou estar lá para acompanhar o trabalho que sei que você pode fazer.” Minha carreira profissional, que acabou sendo muito proveitosa, não teria nem começado se não tivesse recebido esse valioso estímulo. Então percebi que o melhor modo de agradecer à dedicada professora que tinha feito isso por mim seria lembrar sempre esse episódio quando algum aluno estivesse desanimado e saber mostrar confiança no potencial dele como ela havia feito comigo. Na catequese isso é ainda mais importante porque não estamos só “ensinando coisas”, estamos apresentando pessoas ao amor de Deus. 

Uma das tarefas importantes da catequese é aprender a valorizar as pessoas. Afinal, fomos todos criados por Deus, um artista que só faz obras especiais. Eis uma atividade que poderia ser proposta aos catequizandos durante uma semana: a cada dia, diante da primeira pessoa que encontrarmos, descobrir algo bom nela e fazer-lhe um elogio; depois, ao encontrar uma segunda pessoa, contar o que elogiamos na primeira e dizer que acreditamos que ela também tem uma qualidade boa assim. Então poderíamos refletir sobre uma frase de William Arthur Ward: “Quando procuramos descobrir o melhor nos outros, de algum modo mostramos o melhor de nós mesmos.” 

Amor ao próximo exige caridade com os necessitados, é claro. Mas não é só isso. É também saber agradecer a Deus por todo bom potencial que vemos em nós e nos outros. Aí vamos estar mais preparados para fazer coisas boas, já que uma das nossas missões neste mundo é melhorar relacionamentos e nos unirmos para transformar o que precisa ser mudado.

Assim, os catequizandos não têm só que “aprender” o que identifica sua religião. É importante serem convidados a fazer boas obras uns com os outros e, juntos, estarem participando de atividades comunitárias que ajudem a melhorar algo na sociedade. 

Igreja é espaço comunitário, onde se percebe que juntos fazemos mais, descobrimos coisas mais importantes e nos capacitamos para deixar uma boa marca por onde passamos. É bom perceber sempre que a oração que Jesus ensinou quer que cada um se dirija a um Pai que é “nosso”, de todos. Não é algo que se limite à pessoa que está rezando. O Pai é “nosso”, o seu Reino é para vir a “nós”, o pão que pedimos é “nosso” (para todos); o perdão que pedimos está ligado ao perdão que nos comprometemos a oferecer aos outros; sabemos que a vontade de Deus – que pedimos que seja feita na terra como no céu – é que cada um ame ao próximo como a si mesmo. Não basta ensinar o Pai Nosso na catequese, é preciso testemunhar o que ali está implícito na maneira de conviver, dentro e fora da Igreja, com os filhos desse Pai que ama a todos.

Therezinha Motta Lima da Cruz

Foi assessora nacional de catequese. É autora de vários livros de Catequese e Ensino Religioso. 

 

 

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