Catequese Urbana
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29/08/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Amar o próximo e evangelização na cultura hoje
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Nosso grande objetivo catequético é colocar pessoas em contato íntimo com Jesus, criar discípulos que hoje vão por em prática o que Jesus veio comunicar à humanidade. Mas Jesus viveu numa sociedade com costumes, leis e vocabulários diferentes do que temos hoje e nem sempre os catequizandos percebem exatamente a mensagem que certos textos bíblicos devem comunicar. Às vezes usamos também palavras vindas de outra cultura na liturgia, sem explicar às pessoas o que elas significam. Um dia, ao final da missa, uma senhora me pediu licença para me apresentar uma pergunta que ela estava com vergonha de fazer ao padre. Ela queria saber quem era aquela “Rosana” que a gente estava sempre mandando para as alturas. Estava claro que ela ouvia e não entendia quando na missa se dizia “Hosana nas alturas”. Será que costumamos explicar na catequese que Hosana é uma palavra  que em hebraico quer dizer “salve-nos, por favor” e que acabou sendo usada como uma alegre aclamação a Deus?   Temos também na missa outras palavras cujo significado nem todos conhecem. É o que acontece com o termo Kyrie eleison, por exemplo, vindo da língua grega, que significa “Senhor, tende piedade” e está no começo do salmo 51, na sua linguagem original. 

Então é claro que a catequese tem que explicar bem o significado de várias palavras daquele tempo, como: publicano, escriba, doutor da Lei, fariseu, saduceu, samaritano, levita, circuncisão, ano jubilar, os nomes das festas judaicas e muitos outros termos. Mas não basta saber isso como quem está consultando um dicionário. Depois temos que ligar o que se diz sobre essas coisas na Bíblia com as relações que hoje Deus espera de nós nessa sociedade bem diferente em que vivemos. 

O mesmo vale para as parábolas e outros tipos de linguagem simbólica que a Bíblia utiliza.

E sempre é importante esclarecer que, ao falarmos de linguagem simbólica, não estamos dizendo que ali está uma  invenção que não tem nada a ver com verdade. A linguagem simbólica vai mais longe do que uma descrição histórica porque se aplica ao que acontece sempre na vida humana. É uma verdade maior, expressa num estilo mais bonito e profundo, que se aplica a todos os tempos.

Considerando tudo isso, seria bom fazer as leituras da Bíblia em 4 passos. Vamos pensar como seria isso, por exemplo, na parábola do bom samaritano:

1) Explicar os termos que o texto usa. Os samaritanos ficaram na terra quando os sacerdotes e outros judeus que foram deportados para a Babilônia conseguiram lá se manter fiéis aos hábitos religiosos da Lei que Deus lhes apresentara através de Moisés e outros profetas. Sem sacerdotes e assistência religiosa, os samaritanos foram misturando a religião com costumes vindos de outros povos. Quando houve a volta do exílio babilônico, por causa disso foram rejeitados pelos que se consideravam mais fiéis.

2) Ler o texto imaginando os sentimentos que ele despertaria naquela época: como se sentiriam os que se consideravam “fiéis” ao ouvir tal história? O que pensaria um samaritano? O que Jesus estava querendo comunicar a eles?

3) Se Jesus vivesse hoje, como ele contaria uma parábola com significado semelhante, vivida em nossa cultura? Que personagens escolheria? Que tipo de pessoa estaria precisando ser socorrida? Não temos samaritanos entre nós. Que outras pessoas ele poderia usar como exemplo do valor de se ajudar até um desconhecido?

4) O que essa história contada por Jesus quer nos animar a fazer hoje, na realidade em que vivemos? O que ela nos diz sobre pessoas que nem estão dentro dos regulamentos da Igreja mas costumam praticar o bem? É claro que essas pessoas também têm direito a ser evangelizadas, mas não poderíamos começar valorizando o amor ao próximo que elas já manifestam?

Outra atualização importante seria  refletir sobre os milagres feitos por Jesus relacionando-os com o que somos chamados a fazer hoje diante das necessidades dos que estariam precisando de ajuda. Podemos pensar em alguns exemplos:

a) Jesus curou leprosos – A lepra hoje não é uma doença comum e nem todos os que eram considerados leprosos no tempo de Jesus tinham sido corretamente diagnosticados. Mas eles representam os rejeitados, excluídos. Temos gente assim hoje? O que poderia ser feito para reintegrar essas pessoas à sociedade?

b) Jesus curou cegos – Podemos pensar em algo que vai além de uma doença nos olhos. O que um analfabeto não é capaz de enxergar? Que tipo de visão está faltando a quem ainda hoje não conhece Jesus? Como poderíamos ajudar essas pessoas?

c) Jesus curou surdos e mudos – Quem hoje não sabe ouvir as carências do próximo? Quem não consegue ser ouvido ao buscar seus direitos? Quem está com uma auto estima tão reduzida que nem tem coragem de dizer o que sente e expressar seus talentos? Como faríamos essas pessoas terem voz e serem ouvidas?

d) Jesus curou paralíticos – Um desempregado está paralisado, sem poder realizar o que é preciso para cuidar de si mesmo e de sua família. Que outros problemas podem impedir uma pessoa de agir para cuidar bem de sua própria vida e prestar serviço a outros? O que precisaria acontecer para mudar essa situação. 

É claro que hoje o cuidado com os necessitados que precisam mudar de vida passa por outros modos de defender direitos humanos. Não basta simplesmente dar ajuda, fazer caridade. A maior ajuda que podemos dar a um necessitado é dar-lhe condições para não precisar mais desse tipo de ajuda. Isso se faz em relacionamentos pessoais, mas também em projetos coletivos de  defesa de direitos humanos.         

Uma boa catequese formaria pessoas interessadas nesse outro tipo de “milagre”, que todos somos chamados a promover. E a grande pergunta diante da necessidade do próximo continua sendo: O que Jesus gostaria que eu fizesse agora, nas condições do meu tempo e dentro das minhas possibilidades? Junto com ele todos podemos fazer mais e melhorar muitas vidas.

Therezinha Motta Lima da Cruz 

 

 

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