Iniciação à vida cristã
            Formação             Iniciação à vida cristã             A Liturgia e a Iniciação à Vida Cristã (III)
01/11/2019 Ariél Philippi Machado Iniciação à vida cristã A Liturgia e a Iniciação à Vida Cristã (III)
A+ a-
Ariél Philippi Machado

A celebração litúrgica é composta de elementos ligados à vida e à história de um povo e de um determinado lugar. Ela recorda e atualiza um evento do passado, para afirmar no tempo presente, por meio de seus ritos e gestos, que o conteúdo daquilo que cremos é capaz de transformar o que somos. Portanto, a liturgia, por ser uma expressão de fé, ajuda a configurar o futuro, permitindo que a vida tenha sentido e significado novos de acordo com o que se crê.

A fé cristã tem por base a celebração memorial de um evento: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, ao que chamamos de Mistério Pascal.

É mistério porque os planos de Deus são diferentes dos desejos e anseios da humanidade. O mistério divino nos abraça desde a eternidade, permanece conosco enquanto vivemos neste mundo e nos acolherá novamente na plenitude da vida que há de vir.

É pascal porque vivemos um tempo de passagem nessa vida por obra gratuita de Deus. A vida é dom, é graça. Toda situação concreta que lembra travessia, passagem de uma situação para outra melhor, é uma experiência pascal.

Na pessoa de Jesus de Nazaré podemos entender o mistério de Deus que se encarna e vive entre os homens e mulheres de seu tempo. Assume as dores e alegrias do povo, busca resolver os conflitos e dá esperança. É levado a julgamento e morre na cruz. Mas Deus o ressuscita e, aquele que fora crucificado, faz a sua páscoa na força do Espírito Santo. Está vivo, ressuscitou! Ele é o Cristo!

Contemplar os momentos da vida de Jesus de Nazaré, partindo da Palavra de Deus, permite-nos identificar as experiências de dor, sofrimento e situações de morte em nossa vida. Mas, aos olhos da fé, passado algum tempo, já tendo atravessado a dor e a tristeza, suspiramos alegres, expressando o alívio de nossos sentimentos e a concretização de nossas páscoas cotidianas.

É por isso que a celebração litúrgica é o lugar e o momento de unir as nossas realidades com a experiência de fé de nossos antepassados e com a realidade divina que se manifesta na Palavra proclamada, ouvida e assumida nos sinais e gestos litúrgicos e, também, nos símbolos e elementos usados em cada liturgia.

Por isso que, quando estamos reunidos em comunidade dizemos a uma só voz: Ele está no meio de nós.

Mas o que esta afirmação representa para a nossa fé cristã? Em primeiro lugar, indica que a liturgia é diálogo. Não fazemos um ato litúrgico por motivos individuais, mas sempre para expressar a fé de uma comunidade. A liturgia é diálogo da comunidade celebrante com Deus, a quem dirigimos nossas orações. Em segundo lugar, o diálogo implica participação. O sacerdote expressa o convite: O Senhor esteja convosco. A resposta é um ato de fé, consciente de que Deus está presente em nossa vida, atua em nosso favor e nos chama a participar de sua vida. Ou seja, a liturgia precisa ser envolvente, para expressar que a fé dá sentido e significado à vida porque Deus caminha conosco. Em terceiro lugar, o diálogo do sacerdote com a assembleia recorda que Deus se comunica com seu povo de diferentes modos e o convoca para o encontro festivo, estabelecendo diálogo por meio de sua Palavra. A resposta de cada pessoa é um ato livre de fé. É a fé que move os corações ao encontro da graça divina, que age eternamente em favor do bem da humanidade e da criação toda.

Quais elementos da celebração litúrgica apontam para a presença de Deus em meio à assembleia reunida?

A ação litúrgica, que requer um cerimonial com rito, ritmo, símbolos e palavras, é um modo público de a comunidade manifestar o conteúdo de sua fé, reunindo no mesmo espaço a memória de um povo, a comunidade em festa e o desejo de projetar os dias futuros de acordo com aquilo que está sendo celebrado.

Para tanto, destacamos alguns elementos característicos da ação litúrgica:

 a) a Proclamação da Palavra

A Palavra de Deus guarda os relatos inspirados pelo Espírito Santo sobre testemunhos de homens e mulheres que nos precederam na fé. A celebração litúrgica, movida pelo mesmo Espírito divino, tem a função de nos acolher e envolver nesta História da Salvação.

Ademais, uma vez envolvidos, a celebração litúrgica nos abastece aponta os caminhos para continuarmos, no chão de nossa história, concretizando a promessa de salvação de nosso Deus.

A mesma centralidade da Palavra para a catequese vale para a liturgia. É a Palavra de Deus que aguarda o povo toda vez que a comunidade se reúne para celebrar a liturgia. Ela acolhe, educa e envia. A vida que essa Palavra quer comunicar se mostra na ritualidade da celebração.

b) os ritos e ritmos litúrgicos

A liturgia se faz por um conjunto de ações rituais. Os ritos marcam a sequência da celebração litúrgica, adquirindo ritmos diferentes de acordo com motivações concretas da vida que trazemos para celebrar.

A ritualidade existe para expressar a veracidade do que se vive em cada momento da celebração litúrgica. Assim, o rito é responsável por garantir a espiritualidade do ato litúrgico, isto é, o fato celebrado não é apenas uma memória, mas é alimento para a vida no presente e inspira as decisões do futuro, sob guia do Espírito de Deus.

É preciso, pois, entender que ritualidade é diferente de ritualismo. Enquanto o ritualismo é um rito apegado às aparências exteriores, ao formalismo e sem envolvimento afetivo, a ritualidade é expressão viva da fé, desperta os sentimentos, envolve o corpo, comunica as razões da fé à inteligência por meio dos sentidos.

c) os símbolos e gestos

O rito se caracteriza pela repetição. Contudo cada celebração é marcada por motivações diferentes. Estas motivações são apresentadas pela Palavra de Deus, ao longo do ritmo do Ano Litúrgico.

E mais, a celebração litúrgica é feita de elementos da natureza, de símbolos e gestos, de comunicação oral, de músicas rituais e de silêncio. Estes elementos renovam e tornam o rito sempre novo. Da mesma maneira como o sol se despede todos os dias, repetindo o “rito do poente” e percebemos que existe a esperança de um dia novo, quando o sentido da vida pode ser renovado, os ritos não param na mera repetição. São alimentados de significado novo com a simbologia e a gestualidade em cada liturgia.

A comunicação simbólica e gestual, portanto, são sinais sensíveis e visíveis, corroborando a mensagem da Palavra de Deus, que nos comunica a graça invisível. 

Em vista do que refletimos, liturgia e catequese precisam estar a serviço de uma efetiva iniciação à vida cristã. É a vida cotidiana que precisa manifestar o Cristo gerado em nós pelo banho batismal. Para isso acontecer, nestes dias que somos chamados a viver plenamente, devem nos ajudar liturgia e a catequese. 

Ariél Philippi Machado 

(Catequista na Arquidiocese de Florianópolis(SC), teólogo e especialista em Iniciação à Vida Cristã)

Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
Leia os artigos...
                  
Receba as novidades da Catequese do Brasil. Cadastre seu e-mail...