Iniciação à vida cristã
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05/05/2022 Ariél Philippi Machado Iniciação à vida cristã A Iniciação à Vida Cristã: sacramentos de iniciação e mistagogia
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A Iniciação à Vida Cristã:

sacramentos de iniciação e mistagogia

 

O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia compõem o conjunto dos sacramentos da iniciação cristã. E sua celebração na Igreja de Cristo resulta na vida de graça e constante aperfeiçoamento nas obras de caridade. Nisto consiste a mistagogia desses sacramentos.

Vejamos o que ensina o Catecismo da Igreja Católica: 

Pelos sacramentos da iniciação cristã – Batismo, Confirmação e Eucaristia – são lançados os fundamentos de toda vida cristã. [...] Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, estes, por meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor (CIgC 1212.1322).

A reflexão mistagógica sobre os sacramentos da iniciação cristã encontra razão no fato de que pelos sinais visíveis da água, do óleo e do pão e do vinho, as pessoas iniciadas na fé cristã pela graça sacramental expressam um modo novo de viver.

Tornar-se cristão é um trabalho artesanal de paciência, escuta, leitura. É um trabalho de mergulho nas profundezas do grande mistério do encontro e do conhecimento de uma pessoa, Jesus Cristo. Por meio dos três sacramentos de Iniciação: o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, e a sua adesão à fé, que o agregam a Igreja. Os sacramentos são o sujeito, e a iniciação é o efeito: se inicia com e pelos sacramentos, e não aos sacramentos. Mediante os sacramentos, na fé da Igreja, a pessoa é iniciada à experiência de Jesus Cristo.[1] 

Pela água, os cristãos fazem a experiência do banho de purificação e assumem o compromisso de cultivar a pureza do coração no cotidiano, sinal da filiação divina recebida.

Pelo óleo, os cristãos fazem a experiência de serem ungidos para repelir a força do mal com a força do Espírito e, com seus dons, resistir às ciladas do inimigo.

Pelo pão e pelo vinho, os cristãos fazem a experiência de serem alimentados para seguir Jesus Cristo e dar testemunho de sua mensagem de vida nova.

Assim, a graça de Deus que começa atuar no coração e na mente dos neófitos (novos filhos), também os capacita para que seja visível o efeito da mesma graça nas escolhas do dia a dia. Enquanto os sacramentos marcam a dimensão interior (invisível) da iniciação da pessoa, existe a dimensão visível e explícita, que cada sacramento comporta, isto é, a vivência do mesmo mistério, que chamamos de mistagogia.

Afinal, se ainda resta dúvida, o que significa mistagogia? 

A iniciação de um novo membro é uma oportunidade para a Igreja se renovar. O objetivo [da mistagogia] é o de conduzir o novo crente à participação no mistério da morte e ressurreição do Senhor e integrá-lo plenamente na Igreja, comunidade de fé.[2] 

Em outras palavras, o Tempo da Mistagogia é um período de provocar uma profunda experiência com os sacramentos recebidos, referindo-se sempre ao Mistério Pascal, fonte dos sacramentos da Igreja. Por isso, a mistagogia de cada sacramento, e dos três em unidade, depende do quanto o itinerário do processo de iniciação à vida cristã ofereceu de vivências, ritos, partilhas e celebrações a partir de diferentes elementos e sinais visíveis para revelar o invisível, compreendido pelo dom da fé.

O Batismo

- Noções de teologia

O Batismo é o sacramento da fé. A fé que é dom de Deus, manifesta-se publicamente pela adesão explícita a Jesus Cristo. Assim, o mergulho nas águas assinala o novo nascimento da pessoa, apagando sua marca original da concupiscência e marca a sua filiação divina adotiva. Pelo Batismo, o fiel é introduzido na Igreja, a comunidade de fé onde exercerá seus dons e viverá a comunhão de vida. 

- Noções de experiência e mistagogia

O banho batismal lava do pecado original (desobediência e egoísmo) e dá dignidade de filhos de Deus, irmãos e irmãs pela fé. A imagem e semelhança de Deus se concretiza no compromisso com a fraternidade e a vida comunitária. A vida de santidade, que é a herança do Batismo, é a missão cotidiana de viver os valores do Evangelho e buscando imitar a Jesus nos gestos, palavras e atitudes diárias.

A Confirmação

- Noções de teologia

O Batismo e a Confirmação conferem o caráter sacramental, ou seja, é uma marca espiritual indelével que permanece para sempre no cristão. A graça da Confirmação é a efusão do Espírito Santo que une mais solidamente a Cristo para ser suas testemunhas, aperfeiçoa o vínculo com a Igreja e aumenta os dons do Espírito Santo (Sabedoria, Inteligência, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade, Temor de Deus).

- Noções de experiência e mistagogia

A unção com óleo é sinal de que a Igreja, representada na comunidade local, atesta e aposta na criatividade, na força e na coragem de seus novos membros para viver e testemunhar a fé em Jesus Cristo, sob a guia do Espírito Santo. A maturidade da fé não é tanto a idade com que se recebe o sacramento, mas a consciência de que o seguimento de Jesus Cristo depende da adesão pessoal e do compromisso que tem de formar e pertencer à comunidade de fé, colocando-se a serviço com seus dons e talentos.

A Eucaristia 

- Noções de teologia

A Eucaristia conclui a iniciação cristã. Ela é fonte e o cume da vida cristã. É fonte pois une mais perfeitamente a Cristo. A Eucaristia conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo (CIgC, n. 1392). A comunhão renova, fortalece e aprofunda a incorporação à Igreja. É cume pois a Eucaristia faz a Igreja, corpo místico de Cristo. A Eucaristia compromete com os pobres, pois ela é Ceia do Senhor, Fração do Pão, Comunhão, Ação de Graças pelas obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.

- Noções de experiência e mistagogia

A Eucaristia é o sacramento da caridade, da partilha e do serviço. É sacramento (sinal) da caridade pois exige a responsabilidade com justiça social e com o bem-comum, para que os mais pobres sejam restituídos em suas necessidades e tenham sua dignidade defendida. É sacramento da partilha pois a comunhão eucarística implica a experiência com tantas outras comunhões diárias. É sinal de serviço porque na instituição da Eucaristia, na última ceia, o Mestre e Senhor Jesus tomou a toalha e a jarra com água e deu o exemplo de serviço para que seus seguidores fizessem o mesmo (Jo 13,16-16).

A comunidade

Na Vigília Pascal, quando a comunidade está reunida para a celebração da Páscoa do Senhor, os ritos da luz, da Palavra, da água e da mesa marcam a iniciação cristã dos novos filhos e filhas. Durante a Vigília, a comunidade acolhe os novos membros e renova seus compromissos batismais.

Ao final, o presidente reza: “Ó Deus, derramai em nós o vosso espírito de caridade, para que, saciados pelos sacramentos pascais, permaneçamos unidos no vosso amor. Por Cristo, nosso Senhor”.[3] Desta oração fica o compromisso de dar ao mundo o testemunho da única lei deixada pelo Mestre Jesus no contexto daquela mesma e última ceia: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34).

Qual é, então, a mistagogia dos sacramentos da iniciação cristã? Ou, se perguntarmos de outra maneira: Qual é a mistagogia a ser oferecida aos iniciados nos mistérios de Cristo? A resposta é a mesma do Mestre e Senhor aos seus discípulos reunidos para a ceia: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros” (13,35).

A mistagogia é a proposta de renovação da vida em comunidade que a inspiração catecumenal oferece para a Igreja no início do Terceiro Milênio. O amor, sinal distintivo dos primeiros cristãos, precisa ser o sinal que marca a formação de catequistas, o processo de catequese durante o itinerário, o momento de cada celebração e, em especial, dos sacramentos. Será com o amor que dedicamos em cada reunião cada formação, cada encontro de catequese, cada rito litúrgico que nos tornará discípulos missionários mistagogos.

 

Ariél Philippi Machado 

(Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC),

teólogo e especialista em Iniciação à Vida Cristã)

 

[1] SILVA, Jerônimo Pereira. O RICA, um caminho de iniciação antes e depois do Batismo. Revista de Liturgia. N. 249. Maio/Junho 2015. p. 12. (grifos do autor).

[2] SILVA, Jerônimo Pereira. O RICA, um caminho de iniciação antes e depois do Batismo. Revista de Liturgia. N. 249. Maio/Junho 2015. p. 12.

[3] Missal Romano. Vigília Pascal: oração depois da comunhão. São Paulo: Paulus, 1991. p. 291.

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